Os mosquitos da cidade podem ser combatidos com produtos naturais
Na natureza, as plantas são sincronicamente confrontadas com organismos mutualistas e antagonistas, utilizando-se de sinais químicos para seu próprio benefício ou defesa. Por isso, os vegetais liberam produtos químicos pertencentes a várias categorias como alcalóides, terpenos, fenólicos, inibidores das proteinases e reguladores de crescimento. Embora a função primária dessa substância seja de defesa contra insetos fitófagos, alguns trabalhos têm relatado sobre sua efetividade contra mosquitos e outros dípteros hematófagos. Uma vez que, além do sangue de animais, tanto machos quanto fêmeas adultas de mosquitos possuem ancestralidade fitófaga, pois ambos se utilizam do néctar e da água das plantas em sua alimentação diária.
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Os mosquitos detectam os odores quando as moléculas aromáticas dos voláteis se ligam às suas proteínas receptoras. Esses receptores se localizam em tecidos externos ao corpo do mosquito, mais precisamente sobre as antenas e palpos maxilares. Os componentes da produção de voláteis pelas plantas servem como proteção, a fim de deter os herbívoros que as atacam. Assim, é provável que muitos materiais voláteis das plantas sejam repelentes, pois apresentam alta toxicidade de vapor para insetos. É conhecido que fontes naturais contêm larvicidas e adulticidas eficazes como por exemplo as piretrinas extraídas de espécies de crisântemo, azadiractina da Azadirachta indica , os mentolados de espécies de eucaliptos entre outros.
AS PLANTAS COM BIOATIVOS
As folhas das plantas repelentes quando presentes em locais abertos liberam e espalham, com a ajuda dos ventos, os voláteis conhecidos como monoterpenos. Os monoterpenos são tóxicos para os insetos, sendo atividades observadas como inibidores ou retardadores de crescimento, danos na maturação das larvas, redução da capacidade reprodutiva em adultos e supressores de apetite; podendo levar os insetos à morte por inanição ou toxicidade direta.
O eucalipto, citronela, alecrim, gerânio, menta e os temperos picantes são alguns exemplos de plantas aromáticas que sintetizam óleos voláteis e os armazenam em estruturas especializadas, tais como glândulas e dutos. As sínteses das substâncias ocorrem nas folhas. Os óleos essenciais de algumas plantas são considerados uma das melhores fontes naturais de citronelal e citronelol, compostos que são utilizados na indústria para produção de perfumes. O citronelal é usado como repelente de piolhos e o citronelol um bactericida. Também os compostos cis e trans-p-mentano-3,8-diois têm ação composta de inseticidas sintéticos comumente usados.
As fases aladas dos mosquitos possuem receptores olfativos para voláteis de plantas bem desenvolvidas, o que garante certo grau de sucesso ao se dirigirem como fontes de alimentação de seivas vegetais. Assim, após emergirem dos criadores aquáticos, os mosquitos saem em busca de alimentação e atividades reprodutivas. Contudo, ao se depararem com um ambiente carregado com nuvens de monoterpenos são afugentados ou inibidos em suas atividades ecológicas e fisiológicas. Nessas condições, uma população com pouca atividade reprodutiva e reduzida em números de indivíduos tende a diminuir gradualmente ou a quase desaparecer de determinada área.
As plantas medicinais são fontes importantes de recursos terapêuticos. Como evidenciado por diversas drogas preparadas por substâncias de origem vegetal ou inspiradas em bioativos naturais. Contudo, os extratos vegetais frequentemente apresentam mais atividade biológica do que seus constituintes isolados. Isso resulta das interações sinérgicas entre os componentes que podem agir sobre múltiplos alvos. As interações sinérgicas, por sua vez, são observadas quando o efeito produzido por uma combinação de substâncias é superior ao que se poderia esperar com base na contribuição individual de seus componentes. O termo sinergia provém da palavra grega synergos que significa 'trabalhar em conjunto'.
Embora os inseticidas sintéticos permaneçam como padrão ouro para repelir mosquitos, a saúde humana e as consequências ecológicas do uso desses compostos têm sido uma preocupação para os consumidores. Ao longo de cinquenta anos o controle de mosquitos com o uso de sintéticos tem colaborado, porém, apresentado adicionalmente casos de toxicidade em organismos não alvo, resistência a inseticidas e danos ecológicos. Entre as estratégias de controle alternativo, o uso de óleos essenciais de plantas deve ser largamente considerado tanto pelas indústrias na produção e na aplicação comercial como pelo consumidor ao procurar por esses produtos no comércio a fim de usá-los com segurança.
É conhecido que alguns óleos essenciais podem desencadear alergias, estimulantes ou queimaduras quando usados topicamente de modo direto ou mesmo com emolientes. Isso porque muitos deles possuem propriedades dermocausticas, fototóxicas ou mesmo alergênicas. Por isso, os repelentes de origem natural usados sobre a pele devem ter uma seleção restrita de ingredientes e estar dentro das normas de saúde vigentes. Alguns países possuem histórico de uso e aplicação de óleos essenciais para o controle e repelência de mosquitos como a Grécia, Turquia, Egito entre outros. No entanto, o uso é sobre as propriedades aromáticas dos monoterpenos, como o uso de aromatizadores de ambiente e fumegadores.
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