Carta de um morador preocupado com o Aedes aegypti em sua cidade

RECEBI UM EMAIL DO VALDIR, O QUAL ESTÁ PREOCUPADO COM OS MOSQUITOS EM SUA CIDADE. AQUI, EU COLOCO A MINHA OPINIÃO SOBRE AS POSSIVEIS CAUSAS DO AUMENTO DO AEDES AEGYPTI NAS CIDADES E ALGUMAS SUGESTÕES PARA UM CONTROLE MAIS EFETIVO DESSA POPULAÇÃO DE VETORES.
                                                      
Valdir Oliveira de Teófilo Otoni MG 

Prezada Dra. Sirlei Morais, 

"Já nos comunicamos outras vezes, e sempre procurei me atualizar com novidades no seu blog. Passa ano e vem ano, o mosquito nunca sai aqui de casa. De noite, as muriçocas "inofensivas". De dia, o terrível que veio do Egito. As ameaças atacaram entre 16h e 20h, e entre 6h e 9h. Não provei se atacaram no alto da noite. As muriçocas começaram a rodada por volta das 21h. Acho que as espécies se encontram entre as 20h e as 21h, para a troca de ronda. Aqui vale a regra: aonde tem muriçoca, tem Aedes. qualquer possibilidade de ter foco dentro de casa. o alçapão, imagino que os "bichinhos" vão ficar presos ao deixar a vida anfíbia. E sabe quem mais veio para a festa? Os flebótomos. Estão dizendo os cachorros da cidade. Mas, isso é outra história. Escrevo apenas para relatar, e quem sabe obter alguma ideia de como localizar os berçários, ajudando a "Sucam". Muito obrigado pelos diálogos". 

Prezado Valdir, obrigado sua contribuição para este canal de comunicação on line. 

Algumas características do local para a presença de mosquitos : Eu pesquisei sobre sua cidade, Teófilo Otoni, e constatei que é rota de viajantes do Sul para o Nordeste e rota para as belas e disputadas praias do Sul da Bahia pela BR418. Ainda é cortado pela BR116, como rota de caminhões que levam mercadorias para o Nordeste. Esse fluxo de mercadorias e pessoas elevam a cidade como local de alto risco de entrada de mosquitos e agentes de doenças. Somado a isto, existem outros fatores preponderantes para a proteção dos mosquitos, como o clima quente ou ano todo, umidade, chuva, e ainda uma cidade ser cercada pela mata atlântica e esta pressionada pelo desmatamento. O senhor mesmo me dá outras características da cidade que também passaram, como o fato desta ter baixa altitude e ser montanhosa. Pois, com a chuva, a lama escorre das construções nos morros, entupindo a rede pluvial na parte baixa da cidade. A lama e a água secam na superfície, podendo a água ficar represada dentro da rede pluvial subterrânea. O rio que corta a cidade é poluído pelo esgoto residencial. Em alguns bairros periféricos há pequenos córregos que viraram esgoto para o céu aberto. No geral, não há valas específicas para água da chuva e céu aberto.Têm valas subterrâneas.

Minha análise: Como a maioria das cidades no Brasil, Teófilo Otoni segue como favorecendo a introdução e expansão de mosquitos vetores. O controle dessa população de mosquitos deve ser integrado com medidas cautelares de obras de infraestrutura urbana. Em uma comunidade, as águas devem ter um sistema de fluxo tal que não seja possível ser represado, mesmo que por pouco tempo. Os terrenos não devem ter buracos, mato e muito menos lixo. Pois tudo isso contribui para a proteção dos mosquitos. Já temos a questão do comportamento e da própria cultura das pessoas em armazenar água e ter vasos de plantas. Mas é engenhosidade pensar que só isso causa uma superpopulação de mosquitos. Outros fatores ambientais como o desmatamento que causa superaquecimento, a falta de infraestrutura urbana e a aglomeração populacional em locais de periferia com baixa qualidade de vida e ainda a falta de investimento do governo em ações comunitárias protegidas na maior parcela para a questão do aumento descontrolado dos mosquitos. Um programa de controle de mosquitos deve levar em conta as questões de governança como um todo e não isoladamente, com panfletagem para o povo se 'conscientizar'. Se conscientizar do quê? A questão é mais ampla e envolve a qualidade de vida, a questão econômica e social como um todo. Também de nada adianta retirar todos os criadores, sem a implantação de um sistema de monitoramento da população de mosquitos. Pois a fêmea, não encontrando local para pôr os ovos, tende a utilizar seus mecanismos de sobrevivência alternativos, evoluindo para novas paragens. Nesse caso, após a eliminação dos mosquitos e dos seus criados, serão selecionadas armadilhas de oviposição para a captura das fêmeas e de seus perfis, com o devido monitoramento. O controle deve ser de 'supressão' dessa população que antes infelizmente teve seu desenvolvimento de maneira livre, desassistida e desordenada.