Conversando sobre Dengue
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1 . Geralmente, a população é alertada para tomar cuidado com vasos e caixa d'água, mas pouco se fala da questão do lixo e do descarte irregular. Em que medida o cuidado com o lixo é importante para prevenir a transmissão da doença?
R. As larvas do Aedes aegypti se desenvolvem em água limpa e parada, mantendo-se essas condições por pelo menos sete dias. Por isso, há a necessidade de eliminação de todo e qualquer recipiente que acumule água, principalmente a que é acumulada após as chuvas de verão, porque nessa época tanto o clima como a temperatura da água é ideal para o desenvolvimento das fases imaturas do mosquito. Um fator importante na ecologia do Aedes é que seus ovos não sejam aquáticos, podendo se conservar viáveis até 450 dias mesmo em locais secos, precisando da água apenas para eclodir e desenvolver as fases da larva até o adulto. Essa condição favorece a chamada 'dispersão passiva', onde os ovos ficam aderidos em pneus, recipientes ao céu aberto e lixo em geral, sendo esses movidos de um lugar para outro. Esse movimento pode ser dentro da mesma cidade ou em cidades vizinhas pelo vai e vem diário no transporte de cargas, dos pneus dos caminhões, assim como durante as atividades de descarte, recolhimento, acondicionamento e destino do lixo. Para prevenir esse tipo de dispersão, esses materiais devem ser monitorados de acordo com as normas sanitárias vigentes para a coleta e destino adequado do lixo e também o controle sanitário dos veículos de transporte e cargas em geral.
2 . O poder público federal e nas cidades tem uma política eficaz para combater o mosquito da dengue? Por quê?
R. Sim . Devido à complexidade dos fatores que favorecem a prevenção do vetor do vírus da dengue, assim como o caos gerado pela epidemia de dengue na população, ocorreu no passado e mesmo atualmente a preocupação em promover ações articuladas na busca por soluções, tanto no âmbito governamental quanto junto à sociedade. Isso gerou, ao longo de décadas, uma série de diretrizes e normas que visam orientar o planejamento das ações pelas esferas federais, estaduais e municipais no controle da dengue. Esses documentos incorporam aprendizados resultantes da vigilância, acompanhamento e assistência a pacientes com dengue, das ações de controle de vetores e da comunicação social. Por meio dessas diretrizes os governos são organizados de modo descentralizado e de acordo com a sua realidade local. A administração dessas ações é feita com maior ou menor eficiência em diferentes estados e municípios, sendo muitas vezes negligenciada.
3. Por que existem picos intercalados de dengue em uma mesma região?
R. Epidemiologicamente é natural que os picos mais altos de incidência para os ciclos da dengue sejam intercalados de três meses a cinco anos. Isso porque o primeiro contato com o vírus causador da dengue desencadeia na vitima a imunidade para o mesmo sorotipo, sendo conhecidos quatro sorotipos: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. Cada epidemia é introduzida e circula um ou mais novos sorotipos. Também os fatores preponderantes para o intervalo dos picos são a existência de população suscetível (que ainda não entrou em contato com aquele vírus), presença de vetor competente, alta densidade vetorial e ampla circulação do vírus. Ao fechar o ciclo, todos esses fatores desencadeiam uma epidemia em uma determinada área. E para o controle da doença, deve-se quebrar uma ou mais etapas desse ciclo.
4. Os bairros ou cidades próximos a uma área com epidemia de dengue também sofrem com o aumento de casos. É possível afirmar que há alguma relação entre os casos? As autoridades públicas, nesse caso, devem agir em conjunto? Por quê?
R. Sim, podemos afirmar que há relação. Além do principal fator que é o vai e vem das pessoas para o trabalho ou compras, estar muitas delas com dengue, um agravante para a expansão da doença rumores em áreas vizinhas está na ecologia do mosquito Aedes aegypti . Pois o número de mosquitos infectados com o vírus pode ser muito maior do que o número de mosquitos que já picaram as pessoas doentes. Isso acontece por causa da chamada 'transmissão transovariana', em que uma fêmea contaminada transmite o vírus da dengue para os ovos antes da postura, fazendo com que uma variável percentual de descendentes já chegue ao mundo infectado. E, devido ao movimento de dispersão passiva dos ovos, esses mosquitos eclodem para um adulto já infectado, atingindo assim novas áreas. Deve-se considerar também a dispersão passiva dos adultos, os quais entram em ônibus ou mesmo nas roupas das pessoas, locomovendo-se para as áreas vizinhas onde os picos de incidência para a doença estão até então sob controle.
5. E nas galerias de drenagem, passagem de cabos e esgotos, não tem enormes quantidades de água parada, umidade e tudo o que os mosquitos gostam para se desenvolver? Tem algum tipo de proteção instalada que você conhece?
R. Eu entendo que se forem seguidas corretamente as normas sanitárias para redes de esgoto, abastecimento, coleta e acondicionamento de lixo, os problemas ficam bastante reduzidos e sob controle. Quando se trata de baixadas, áreas de ocupação irregulares e ou regiões muito povoadas os problemas aumentam. Não só para a criação de mosquitos como TODOS os tipos de regras Nas áreas de infestação mencionadas, é aconselhável a realização, pelo poder público, de obras de infraestrutura sanitária em conjunto e de todas as ordens. Essa ação é emergencial e baseada no MIP. Manejo Integrado de Pragas.
6. Como se impede que os mosquitos procriem, por exemplo, dentro dos bueiros. Será que lá não acumula água em quantidade (e tempo) suficiente para o desenvolvimento de ovos e larvas? Tava pensando nos bueiros da prefeitura, com galerias pluviais. Ou será que existe alguma medida (de projeto) que os previna? Se os bueiros precisaram de alguma "telinha", com certeza, entupiriam muito rápido, devido ao lixo levado com as águas. Daí surge uma dúvida: colocar algum larvicida biodegradável em bueiros ou armadilha de postura não pode vir a ser uma solução
R. Teoricamente, sabe-se que o Aedes não possui tendência a se desenvolver em bueiros, pois a água tem fluxo e é muito suja para esta espécie de mosquito. Se há falhas estruturais, ou seja, se estão fora das normas sanitárias, as áreas laterais que ficam alagadas poderiam criar Culex , que respiram na superfície da água. O Aedes é mais de se alimentar e respirar no fundo, sendo difícil para ele viver em buracos de bueiro com água parada quando está muito sujo. Tecnicamente, os bueiros têm vazão pra água da chuva correr, e quando pára a chuva, eles devem escoar e ficar vazios. Quando é o céu aberto, é um problema, então tem que fazer obras de escoamento da água, aplicando inseticidas para adultos a cada 7 dias nas bocas e laterais. O inseticida deve ser bem forte e potente, e não aquele misturado com efeito residual de espantar, como os à base de cipermetrina. Já o larvicida costuma não ter um bom efeito em águas muito sujas. Porém, aconselhe-se o seu uso em casos emergenciais.
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